A Sombra, de Pedro David


De fato, a fotografia existe antes da fixação da imagem. O ato fotográfico é uma parcela de segundos entre a abertura do obturador, o seu resultado segue da perpetuação de um instante, uma petrificação do tempo cronológico.

A escolha fotográfica não é feito só pelo momento, existe também uma escolha espacial, o campo fotográfico – o que aparece na imagem. Para Philippe Dubois, na fotografia “cada tomada é inelutavelmente uma machadada que retém um plano do real, exclui, rejeita, renega a ambiência”. Notoriamente, no Jardim de Pedro David, além das fotografias que formam a exposição, o artista organizou pela galeria pedaços de pedras vermelhas que estão presentes também na imagem fotográfica. “Toda violência do ato fotográfico procede essencialmente desse gesto de «cut»”, afirma Dubois.  Este cortar consiste no que deve ser capturado, e isto resulta em uma parte que é deixada de lado (o fora-do-campo e do quadro).

Na surpreendente fotografia “A Sombra”, uma das fotografias que compõe a exposição de Pedro David, nos questionamos sobre o campo representativo. A sombra da árvore enfatiza um espaço ausente, invisível ao ambiente fotográfico, e é a partir deste off que construímos uma leitura da imagem, construindo um outro espaço. Se há a sombra de um objeto fora do campo, onde encontra a sombra do fotógrafo? Estaria Pedro David tentando ocultar o artifício? A Sombra mostra um olhar onipresente do fotógrafo, um afastamento, mas antes, também, uma junção com a natureza, e mais uma vez sua onipresença.

Há nesta fotografia, sobretudo, uma forte metalinguagem sobre a exposição. É através desses ambientes offs, fora de campo... periféricos, que Pedro David constrói o seu Jardim.

A exposição fica até o próximo domingo, dia 28, no MAM-BA. A visita é gratuita.