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Há um grande véu que cobre a história da civilização. Por detrás desse longo vestido branco se esconde uma temida fertilidade. O que se vê são apenas seus olhos acumulados de tanta sensualidade, como uma mulher casta em burca.

Antes do processo civilizatório da humanidade essa sensualidade era integral. A estatueta da Vênus de Willendorf nos mostra uma apologia aos valores femininos. O paradigma que a tradição ocidental adotou foi de uma valoração apenas de característica do poder masculino. A moral judaico-cristã como exemplo, simbolizou a mulher enquanto papel submisso e negado em seus textos sagrados.

O símbolo do feminino é de uma Grande Mãe e por isso a Vênus possui um excessivo seio. A Grande Mãe é tão corpulenta como a própria Terra, que alimenta todos os seres vivos. O arquétipo da Grande Mãe está presente em diversas culturas tribais, pois o mito é originado de um convívio em harmonia ao natural, da natureza entendida ainda enquanto abundante.

Os ideais científicos da tradição ocidental foram muito contrários a uma relação afetuosa de maternidade, e viam a natureza como uma espécie de escrava. O avanço científico provocou devastação de diversos ambientes, isso acarretou sérios problemas ecológicos, inclusive desavenças à culturas não adotadas os valores de superioridade do Homem à Mãe Natureza. Assim vários povos foram violentados e exterminados por ideologias machistas.

Nas tribos indígenas da América ainda não colonizada pelo macho branco, o sentido da existência não correspondia a uma relação de um observador alto e centralizado, como no cânone da teo-ontologia ocidental, mas de participantes do mesmo universo natural, que cuidavam amorosamente. Suas pinturas genuínas são reveladoras de uma vivência orgânica.

Diante de uma tradição que ainda hoje apedreja a sensualidade feminina, que não considera as etnias não-europeias, que boicota os projetos sustentáveis, eu diria que é muita relevante a performance da Grande Bete Actis pela preservação da vida.

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Beth Actis emocionou a todos como uma Grande Mãe, amamentou e fez crescer. Todos naquele momento seguiram a estrada natural, que liga Minas ao Porto, ao Mar... Ponto de areia... Ponto final.

Darlon Silva,
Poeta.











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Fotografia: Rick Van Pelt