Da série "UNIDADES" de Tilde Santtos.

Creio que estamos no momento mais esplêndido da carreira de uma artista que chegou a profundidade íntima do humano. Posso assim falar que a aurora de Tilde Santtos excede o leite que amamenta a natureza dionisíaca da obra de arte. Essa exuberância de cores durante o preceder do Sol na artista é um processo de iniciação do dia. As Unidades exibem agora o instante em que o humano se prepara para contemplar a grandeza do todo, como a artista que ao pintar a alvorada de si transborda toda a possível variedade de cores.

A ocasião mais intensa de uma expressão é quando ela se defronta com a questão da unidade, a religião é assim, a ciência também, até mesmo a filosofia, que é a mais rebelde de todas, não escapa. Aliás, é curioso lembrar aqui, que a Filosofia só surgiu quando se pronunciou que Tudo é Um, foi isso que Tales de Mileto, o primeiro Filósofo, disse afirmando ser a água essa unidade de tudo. Ainda que a anima da multiplicidade se mostre, ela ainda esta dentro de uma unidade, porque a unidade é a instância primeira.

A manhã dessas instâncias é simbolizada pelos avantajados seios do boneco nas Unidades, potencialmente de uma ama, que tanto seduz como nutre, ambas as funções do peito formam um nexo primordial com a vida. Esse nexo também é o do corpo com a psique, pois sem corpo não há vida, mas é a psique que distingue o indivíduo. Note o corpo franzino e a dimensão corpulenta da cabeça. Não há como falar com profundidade sobre o humano sem essa união. Que não é só uma união de alma e corpo, é mais precisamente o vínculo com a totalidade universal.

No universal todos nós somos iguais, a diferença é do particular. A individualidade não pode tornar o homem desigual, apenas diferente em manifestação. O indivíduo é sempre a diferença mais o universal, por exemplo, quando definimos homem como um animal racional, estamos dizendo que a razão é o que diferencia das demais espécies e a animalidade o que iguala. No contexto humano, temos as distintas etnias e culturas, mas todas no universal se igualam porque tratam do humano. A proposta dos Igualitários é justamente tratar dessas semelhanças singulares que afirma a humanidade. 

As Unidades e os Igualitários têm a mesma intenção de visar à grandeza do todo humano. Expondo os aspectos mais íntimos, Tilde Santtos encara, como um místico ao absoluto, a maior força humana que é a sua humanidade.

 Darlon Silva, 
poeta


Performance de Bete Actis em frente a obra de Tilde Santtos