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A obra de Bartira Sena faz uma crítica a essa civilização tecnológica, que apesar de nos trazer inegáveis benefícios, não pensa os impactos para o futuro, porque a atual ciência é ausente de uma ética ecológica. Aqui pensar é prever, porque o pensamento quanto ao futuro é previsão.

Os materiais utilizados são propositalmente de objetos tecnológicos usados, pois estão impregnados de emanações daquele que descartou. O objeto rejeitado se mostra possuidor de um resquício espiritual, capaz de reter o som que se encontra internamente a ele.

O som produzido não se iguala a estética do ruído de Russolo, que devido à época só compreendeu o movimento da técnica mecânica. Com a descoberta da relatividade e da física quântica modificou seriamente a estrutura do pensamento científico, trazendo com a tecnologia eletrônica um resgate ao debate sobre o epifânico.

Pode se fazer algumas analogias da obra de Bartira com o afro-americano Henry Dorsey que dominava o material elétrico para construir seus objetos de arte. Pois ambos não só estavam preocupados com o desenvolvimento da técnica de fazer música com objetos usados, mas de manifestar o rito e a ancestralidade.

Apesar de envolver certo sentido de transcendência, prever nada tem haver aqui com uma vidência sobrenatural. Sobretudo prever se refere a encarar a memória, o instante e o futuro como uma unidade do agora. Somos responsáveis pela tecnologia que estamos utilizando, com toda sua beleza e seus efeitos nas gerações futuras. Essa intenção é clara na performance intitulada “curuPIRA” da artista.

A pretensão de Bartira Sena é fazer da tecnologia não um sentido específico e reducionista, mas de generalizar toda a área do conhecimento, principalmente o conteúdo mitológico da sua genealogia cultural, que foi neutralizada pela chegada da ciência moderna e pela ideologia colonizadora.



Darlon Silva,
Poeta.