Dacosta Ahern, Elizabeth. Africa. Acrílica


A arte é uma arapuca do não familiar, armadilha para natureza, enquanto o artista é quem apreende o desconhecido, enjaula na obra de arte, mostra ao mundo o bárbaro, como um caçador que retira a pelagem de um animal feroz e se aquece, a arte por si é um olhar estrangeiro.

O artista é aquele que escuta o que é estranho, e por ouvir, compreende a pigmentação do mundo para produção da obra de arte. A experiência do diferente é a força da criação artística ou poeticamente falando: o encantamento. O artista grafa o que é incomum ou a trivialidade invertida, precisa deixar falar o estrangeiro dos próprios conceitos.

Debret e Carybé nos faz pensar opostamente a célebre frase de Tolstói, “Se queres ser universal começa por pintar a tua aldeia”, ambos os artistas representaram não a sua aldeia, também respeitando a exigência da arte, da universalidade, mas ainda assim a frase é válida, aprofundando em seu sentido, pintar a aldeia quer dizer expressar a vivência, eles tomaram para si a cultura do outro e passaram a fazer parte dela através da obra.

Arte e artista se confundem na leitura, estão juntos, mas não ocupam espaço, porque estão fora de uma determinação geográfica. Conceitos tão abrangentes como o mar é de esperar que “navegar é preciso”, descobrir novas terras.  Leni Riefenstahl acusada de nazista, foi uma das maiores estrangeiras, sua fotografia da tribo africana em que conviveu, persuade de que nós somos acolhedores de experiências.

O afastamento do mundo é o que faz o homem se tornar artista, por isso é intrínseco ser estrangeiro, viajar a outros territórios que não é o seu, e mais, viajar pela própria vida, conhecer pessoas e paisagens, gastar dinheiro em hotéis, conversar com algum escritor, aprender uma nova língua e disso tudo fazer uma obra de arte.

Darlon Santos da Silva.



Veja a seleção das outras  obras   para este tema  na continuação deste post:


Debret, Jean-Baptiste. Caçador de escravos, c. 1820-1830.

Riefenstahl , Leni. People of Kau, 1975.

Carybé. Vadiação, 1965. Serigrafia.
Gaugin, Paul. Mulheres de Taiti na Praia,1891.

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