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O sentido filológico no taoísmo do par inseparável yin e yang refere à sombra e a luz da montanha. É justamente na montanha a intenção da poesia exposta. A paciência da montanha  segue o tédio de Maomé. A montanha quando entediada desloca para outro lugar.

Ao chegar ao cume da montanha é descoberta a existência do horizonte, um ver inesquecível do céu, mas logo o leitor sente vertigem pela altura. O que o poeta Darlon Silva esconde, mas aqui será explicitado, é que se trata de um guia ao leitor para o abismo. A vertigem no fundo é o desejo de se jogar ao abismo.

O ápice da montanha incomoda bastante, como qualquer tagarela costuma chatear quem cultua o silêncio. O poeta desafia o leitor para a morte, como um samurai, pois detesta o falatório. Sabe se que a invenção dos haicais se deu pela arte do samurai. Basho foi um grande samurai antes de ser poeta, que trocou a espada por uma arma mais mortal. Darlon confessa ter ódio da linguagem, apenas fala para o vento da sua voz empurrar ou assustar alguém ao abismo.

O horizonte é a dor preparatória para a nobre morte, por isso a maior parte do tempo o horizonte é azul. A melancolia do azul é na verdade essa perda do abismo, antes de perder algo não se tinha nada, era só o vazio do abismo. O poeta altruísta alerta que a nobre morte é o caminho para felicidade, em que um dia distraído entre as pedras soltas, tomou um tombo ao sem fim. Ele só teve vontade de voltar para provocar a queda em outros.

Depois de ter se recolhido do abismo sua áurea se tornou violeta, o pai-mãe do universo, assim como a vibração ultravioleta de Nanã. Das anãs, porém raras palavras, saem araras voando cheia de cores. O arco-íris de Oxumaré advertindo as tendências naturais. O violeta é a cor mais velha do dia, basta olhar o fim do crepúsculo. Uma flor caída é também uma semente, que deitada na lama pode brotar a vida e ainda florescer um lótus.

Quando no pico da mais alta montanha, A Montanha de Ouro, se escorrega ao abismo não há mais volta possível. Não se pode voar para voltar, mesmo que seja um anjo no retorno, já se é outro. Saber não é importante, pois no abismo nada vale o conhecimento da locomoção, é melhor ainda não saber. Andar, nadar e voar são os mesmos e nenhum ao mesmo tempo.

Essa montanha de poucas palavras está cheia de armadilhas, são os ideogramas orientais, é o caminho das pedras. Não te esqueças, todos nós somos Maomé e é mandamento ir à montanha. Cada pedra vai te fazer rolar ao perpétuo eco. Cuidado! Cuidado! Cuidado!

Darlon Silva,
Poeta.

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