-
A obra de Renata Otero não é apenas uma releitura de clássicos da história da arte, é antes uma interpretação da história do homem, quando intrinsecamente se discute o comportamento social contemporâneo. As pinturas estão para além do debate dualista do consumismo x bem-estar, anjo x pecador, luz x treva. O debate está além do leão devorador e traz às garras a questão da sustentabilidade.

Segundo Leonardo Boff, teórico da ecologia, a história da humanidade se divide em três eras. A Era do Espírito, a Era do Corpo e a Era da Vida. A Era do Espírito se compreenderia das culturas ancestrais originárias que cultuavam a physis (natureza divina). A Era do Corpo foi iniciada pela manipulação da força e o surgimento da técnica, esta Era provocou a dominação perversa a natureza. E a Era da Vida, a qual é tratada na obra de Renata, como um novo paradigma da união do corpo e espírito, com suas teias interdependentes da biosfera.

Na Era do Espírito a natureza não era dividida em notas isoladas, mas enquanto acordes, enquanto música, como uma orquestra com todo o universo, o cosmo. O valor do sagrado no principio de adesão ao cósmico é uma característica marcante. Ressaltado na graça da iluminação divina, no par de asas celestial e na seda do corpo feminino.

Na era do corpo, os objetos se afastam gradativamente do espírito verde (biodegradável), para o fordismo de objetos produzidos para serem descartáveis, o que provocou lixos em grandes quantidades, atingindo todo o comportamento social. Existe toda uma cultura que fundamenta a exploração da natureza e do acumulo ao lixo, e é também a mesma que subestima os valores não europeu civilizatório.

Na era da vida é possível fundir a tradição científica ao novo paradigma da sustentabilidade. A tecnologia pode servir de reparação e ressignificação dos valores da modernidade mecânico-machista, para uma ética de cuidado a geradora Terra. Para quebrar o antigo paradigma é preciso antes uma apologia aos valores femininos transcendentais.

Renata Otero não fica presa aos mestres como Caravaggio e Igres, mas dá um passo a mais, um passo de uma felina nas artes. Reler um clássico, aliás, requer entender as diferentes épocas e dar assim um sedutor passo para a Era da Vida.

Darlon Silva,
Poeta