-
As bonecas da indústria de moldes ganham espírito, quando Juninho Tatuador dá ao que é esquecido na sua identidade pelo consumismo, uma dimensão da profundidade de individuação. As bonecas são tatuadas de modo a singularizar os brinquedos da cultura de massa e cutucar a ideologia da padronização.

As bonecas tatuadas causam certo estranhamento ao pensamento do senso comum, por se tratar de brinquedos não padronizados aos signos aceitos na difusão midiática. A tatuagem enquanto linguagem é expressa de modo marginal à educação dos “bons costumes”, pois altera a ideia do corpo como tendências naturais de potência.

As tatuagens singularizam, pois são marcas adquiridas por escolhas até o perecimento da pessoa. Os significados são eleitos a partir das vivências pessoais e que muitas deles podem se revelar vazios de sentido. A vontade de se ter um boneco em série pode se comparar a possuir uma tatuagem que distingue se igualando.

Dar espírito as inertes bonecas das prateleiras requer a capacidade de individuação, somente pelo eu-pensante se dá a existência, como em Descartes, porém o valor da tatuagem não se dá apenas pelo arcabouço teórico e sim pelo fato da emoção, do arrepio à dor da pele.


As bonecas além de objetos de uso também são signos da infância que marca a construção do indivíduo. Assim é a criação de Juninho Tatuador, que traz elementos de alguém que imerso pela indústria dos brinquedos, manifesta um lado crítico de brincar.

Darlon Silva,
Poeta

-