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O olhar atento da criança nas duas imagens são também janelas para o mundo, onde se quebrou o vidro que separa entre a ideia fantasiosa que se têm do menino e a realidade pulsante de sua alma. Esse é um olhar do conhecimento, que pouco se encontra nas escolas segregadas por instituições pedagógicas de ideologia escravocrata/ aristocrática. Os olhos só são janelas, porque detrás dos olhos, existe sempre um necessário movimento interno que permite o olhar, que quando se volta a si, explode na obra de Suzane Lopes.

É o espanto do olhar do jovem Teeteto que Sócrates fala: “Não estás vazio, algo em tua alma deseja vir à luz”. Os sofistas aborreciam Sócrates pelo fato deles cobrarem por ensinar o conhecimento, o filósofo ironizando isso inicia um diálogo com Teeteto, sobre o que realmente é o conhecer. O jovem responde algo muito próximo a “movimento interno/ sensação”, e Sócrates analisa essa definição comparando com as teorias do movimento dos filósofos e poetas que o precederam.

Os olhos não são portas, mas são janelas para algum lugar, que só com a traquinagem de um menino é conveniente saltar. A traquinagem é mesmo um modo explosivo de introspecção. O olhar do menino é um exercício das suas verdades que se movimenta como um susto ao traque. Esse é o susto do embaçado a clareza das ideias. Do combate do branco à escuridão é certo que existe um meio termo, e que são os inumeráveis tons de cinza.

Só existem dois olhos porque são janelas de diálogos, que somente em um piscar de olhos se decide dizer SIM ou NÃO às explosões. Qualquer explosão é uma explosão, mas o que importa é que tem o poder de decidir. A bomba de Hiroshima é uma explosão. A bomba do menino em São João. O homem bomba. Só o que não concerne ao mundo é mesmo essa mudez de gente adulta menor, esses muros sem janelas.

Apesar da obra de Suzane Lopes abordar sobre um movimento de militância social, ela se refere a algo mais profundo, a origem da própria mudança, como nos iluministas, que captaram no símbolo da saída da menoridade para a vida adulta o sentido de uma revolução da humanidade.

Darlon Silva,

Poeta.

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