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O que é mais nobre na obra de Juca Lordelo é essa presença dele mesmo. Ele guarda a si e ninguém mais. Apesar do rastro de uma pena, não existe um anjo da guarda o velando. Essa pena só significa que ele não leva nenhum fardo de algum sacrifício metafísico. É ele em que dialoga consigo a todo tempo, até mesmo no vazio do seu Eu.

O papel velho, a folha seca e a ferrugem indicam o envelhecimento. A folha se refere de como ele dialoga com a natureza; nasce verde nos galhos, seca e cai. O papel; inicialmente se rabisca a novidade e depois se torna velho como o papiro. A ferrugem; mesmo no metal, que é símbolo de força, é passível de perecimento.

O elemento enferrujado é uma peça integrante a um classificador. A classificação natural dos comportamentos se dá por um hedonismo (tender ao prazer e fugir da dor), porém existe um Eu que dialoga com o outro Eu, onde pode se arquivar cada coisa. As experiências são categorizadas, mas também são embaralhadas pelas mutações cotidianas.

O artista não quer dizer que somos páginas em branco em que vamos escrevendo a vida, mas que o Eu é um colecionador dessas páginas. O Eu em certo sentido é vazio, porque coleta os objetos ao acaso, mas também é carregado de outros Eus, pois seleciona os mesmos objetos. Portanto não é paradoxal que exista um Eu vazio e um Eu duplo.


Em tantos artistas que transferem seu Eu para personagens fictícios, escondendo-se em suas estranhas intimidades, criando mundos que não existem de fato por covardia, acho nobre essa atitude de coragem desse artista Juca Lordelo.

Darlon Silva,
Poeta