Quando se coloca o ouvido em uma concha do mar, misteriosamente encontrada na areia da praia, é possível escutar o canto das marés. A concha canta com a voz das sereias, a enchente e a vazante da maré. Se você escutar, por exemplo, uma Geysa Coelho, saiba que ela é uma dessas preciosas conchas que saíram do curso das águas de Ilhéus.

A concha só conhece o segredo do canto das sereias, pois se dedicou a amar a filosofia, ou seja, aprender a morrer. Porque filosofia é isso e nada mais. A concha que um dia já foi casa para algum ser vivo, destina a ecoar por toda uma eternidade uma melodia própria. A concha é a única criatura que Deus inventou que é superior a morte, e por isso é também uma beleza que não perecerá.

Geysa Coelho é irmã da Música Popular Brasileira, pois ambas são originárias das comunidades ribeirinhas. O que diferencia é que Geysa é uma irmã rebelde, uma rebeldia com muita adrenalina. Mistura um rock, faz releituras de músicas rejeitadas, canta do seu jeito, mas tem no sangue o mesmo DNA da MPB.

A concha anuncia o som natural das águas. Maré cheia em maior força na voz, em estilo FaTal da Gal. Maré seca na métrica de um tom miltoniano e seu descanso mineiro. Ambos aconchegantes como no interior da concha. As sereias só cantam nas pedras, pois no subterrâneo das pedras habitam conchas. Habitam também nas entranhas do convívio litorâneo, em qualquer interior do interior de Geysa Coelho, que também é dura como pedra.

Darlon Silva,
Poeta.