Obra de Alex Ígbo exposta na EM México (2014)

A janela do povo brasileiro foi carpintada por um sincretismo de combinações, que hoje não pudemos mais identificar um símbolo sem estar mesclado assim com outro, mesmo na sua origem mais conflituosa. O caso é que amalgamou no imaginário popular as imagens de Jesus e Exu com uma simbologia similar de mensageiros, no entanto Exu foi associado pelos missionários ao Diabo, que é rival ao mensageiro Jesus.

A proposta de Alex Ígbo é então juntar Exu com Jesus. Já que ambos são o caminho que leva a casa de Deus, em alguma encruzilhada os dois devem se encontrar. Porque Jesus foi crucificado, ele pode se conciliar com Exu. Só na ressurreição das idéias Exu e Jesus se apaziguam em Jexus. Então o vinho e a cachaça serão o mesmo entorpecimento no rito do sagrado.

Se juntarmos duas cruzes, uma em pé e outra de cabeça para baixo, formará duas encruzilhadas. Nas encruzilhadas o dinâmico se faz presente nas aberturas dos caminhos. O que aparece no translúcido dos vitrais é a abertura para um terceiro elemento que congrega as diferenças de Jesus e Exu. O vidro alerta que no conflito pode quebrar e obscurecer o aviso proposto.

Se as encruzilhadas são as portas, a janela é abertura para ventilar a casa de Deus. Jesus e Exu simbolizam a comunicação com o divino, por isso têm características de leveza. A pena de papagaio de Exu e a humildade de Jesus (que anda sobre as águas), expressam o sentido de um ser que anuncia uma mensagem de libertação, pela luz que emana do interior da casa.

Curvou-se em seu caminho um crucifixo na encruzilhada, e viu que há muitos mais traços de Exu com Jesus, do que com a face do Diabo. Alex Ígbo teve que domar aquilo como um carpinteiro às palavras, harmonizou tudo, agrupando em Jexus.

Darlon Silva,
Poeta.