La Catrina de Damapejú exposta no EM México

O traje noturno de uma noiva cadavérica é florescido pela luz da lua. O vestido lúgubre que cobre a vida de pulsão inferior, amenizado pelo frio interno,  constitui o aspecto esquelético de La Catrina. O amor da caveira que vai se casar é o avesso da amada que se une ao amante em pleno sol do meio dia. O amor de La Catrina é o contrário do fogoso, é frio, sombrio, mórbido e úmido.

A morte é o fenecimento das folhas no inverno e o que segue disso, como o rio que desaparece com o gelo. O silêncio na claridade da lua noturna que ofusca os olhos carnais. Não há carne, somente o esqueleto, e os ossos é a própria carne. O vestido não poderia ser como o branco das virgens, já que se trata da própria virgindade em si, do que torna as coisas que são virgens temporariamente.

Já que se desfez da sensibilidade da carne, em prol do amor ao absoluto, a escuridão da noite preenche o coração de La Catrina. A morte do ego engradece o vestido da noiva e é intrínseco a jornada da união com o amado. A cauda do vestido é o regresso a origem da luz. A parte frontal é o tapete com seus chakras que permite a simetria do retorno.

Quando a luz da lua aparece refinando o dia dos finados, celebra-se a noite de um calor friorento, a comemoração da tristeza e a reversão das perdas em encontro com o absoluto. A lona preta celebra todas as cores adornados no rosto e chapéu de La Catrina.

No vestido sombrio de La Catrina João Damapejú, nos remete ao lunar, mais alto e fúnebre amor, longe de qualquer iluminação que não seja o da poesia das catacumbas. A tessitura minuciosa do traje revela um artista capaz de tecer o lado oculto da noite, que aos despreparados seria algo aterrorizante.

Darlon Silva,
Poeta.