Rodin em frente ao célebre "O Pensador" na fotografia de Edward Steichen.

A ligação de Auguste Rodin - artista francês considerado o pai da escultura moderna - com a fotografia é nítida e relevante. Uma vez que, apesar de comentários do artista sobre o carácter ilusório deste processo, Rodin foi um dos primeiros criadores artísticos a usar tão intensamente a fotografia como forma de registro de seu processo criativo e resultados das suas obras para divulgação em jornais e outros fins, embora nunca tenha fotografado diretamente. Estima-se que, ao longo de sua vida artística, foram encomendadas por Rodin mais de 7.000 imagens, por fotógrafos dispostos a frequentar o seu ateliê e registar sua vida artística, tais nomes, às vezes pouco referidos, como: Edward Steichen, Alvin L. Coburn, Henry Coles, Jean Limet e Stephen Haweis, que retrataram desde os pequenos moldes de futuras esculturas até mesmo retratos de Auguste Rodin.
Acontece que, para o mundo da arte, Rodin e a fotografia são contemporâneos e conterrâneos. Rodin nasceu em 1840 na França, poucos anos depois da primeira imagem fixa, pelo químico, também francês, Robert Niépce, e um ano depois do governo francês comprar os direitos do Daguerreótipo e torna-lo em domínio público, o que rapidamente popularizou-se, e, deste modo, ligando-se futuramente ao interesse do artista. Rodin e a fotografia estão, praticamente, ligados.
A partir de 1880, Rodin abriu seu ateliê aos fotógrafos, pouco conhecidos, para documentar todo seu processo de criação e, principalmente, pelo interesse de material para divulgação de suas obras. De fato, era uma grande indagação, não só de Rodin, mas também de grandes pensadores da época, sobre a limitação da técnica fotográfica, já que, a fotografia, para eles, não captariam essencialmente toda uma realidade, mas apenas uma parte limitada e dirigida (pelo fotógrafo) dela. Walter Benjamin, em seu ensaio Pequena História da Fotografia (Kleine Geschiete der Photographie) (1931), aborda que «Mesmo na reprodução mais perfeita, um elemento está ausente: o aqui e agora da obra de arte, sua existência única, no lugar em que ela se encontra. É nessa existência única, e somente nela, que se desdobra a história da obra.» O próprio Rodin afirmava que «O artista que é verdadeiro, a fotografia é mentirosa.» E, em correspondência com o diretor de um Museu, o qual estava interessado em adquirir obras suas, através do conhecimento pelo registo fotográfico, Rodin avisa que «A fotografia não dá uma ideia de minha escultura. Faço modelos ronde-boss e a foto, portanto, só capta uma quarta parte do objeto, que não pode então ser totalmente compreendido».
Fotografia de Edward Steichen que faz parte de uma
série de fotografia noturnas da obra Monumento a Balzac
Mas, além do objetivo de apenas encomendar fotografias para divulgação, Rodin reconheceu na fotografia uma das suas características principais, e então indagadas; quanto a orientação do olhar do espectador. A fotografia tinha por tornar visível aquilo que por vezes passava despercebido. O próprio, menciona em cumprimentos à um dos fotógrafos que frequentavam seu ateliê, o Edward Steichen, que «Suas fotografias farão o mundo entender o meu Balzac». Rodin começou por utilizar a fotografia como um meio de orientar o olhar do observador, e também o seu próprio, para um determinado ponto de sua obra, já que, para Rodin, todo fragmento de uma obra também poderia ter emoção e ser completa apenas em si, deste modo, poderia evidenciar partes de sua obra que julgava fundamental, direcionando o olhar do fruidor para o olhar do criador. Assim, os primeiros fotógrafos a frequentar o ateliê de Rodin assinavam o contrato que o escultor também faria parte na construção das fotografias, escolhendo luz, enquadramento e ângulos, de modo que Rodin começa então direcionar os olhares dos espectadores à sua visão. A partir de 1896, por exemplo, em Genebra e mais tarde em Bruxelas e nos Países Baixos, por volta de 1899, o artista começa por usar as fotografias em suas exposições ao lado das esculturas. Essas fotografias não só serviram como destaque de ângulos, a venda de tais obras contribuíram para a divulgação, e então sucesso, de sua obra. Em muitas das fotos deixadas por Rodin, que hoje se encontram sob os cuidados do Musée Rodin, encontram-se registo de anotações, títulos e rabiscos sobre as fotos, também parte de que revela seu modo criativo. Essas intervenções gráficas, aplicadas diretamente a fotografia, com crayon, tintas e canetas, permitiram a Rodin a fazer indicações prévias para futuras mudanças, a fim de corrigir uma obra e modificar detalhes ou enfatizar determinado movimento, e, até mesmo, fazer pequenas experiências pictóricas, usando as fotografias como  exercícios criativos, como verifica-se em algumas intervenções que Rodin fez em fotos na produção da sua obra Balzac.
Intervenção/anotações de rodin sobre a fotografia de autoria desconhecida
A fotografia não só contribuiu para Rodin em registro, destaque ou divulgação. Com o advento da fotografia, por sua vez, como é sabido, toda a concepção artística foi transformada. A fotografia trouxe um novo meio de linguagem pictórica, e fica evidente também nas esculturas de Rodin. Algumas de suas composições seguem, assim, a mesma ideia da linguagem fotográfica. Por exemplo, em sua obra O Homem que Anda, percebemos uma figura humana sem os braços sendo a obra completa – aqui, uma tentativa de manter a relação com os recortes fotográficos e a busca por evidenciar uma parte principal para o autor, como fazem os fotógrafos.
A intimidade do escultor com a fotografia, fica mais uma vez exposta pelos inúmeros retratos dele. Rodin sempre pousava, vaidosamente, na frente da câmara, em meio as suas esculturas em seu ateliê. Como já dito, desta forma, as fotografias vem por revelar seu processo de criação, tais como ferramentas utilizadas ou o modo das atividades que ocorriam em seu ateliê.
O ateliê de Rodin por Eugéne Druet

Esta movimentação no ateliê de Rodin por fotógrafos, durou até os últimos dias de sua vida. Desde a abertura de seu ateliê a visitantes fotográfos, percebemos que a linguagem fotográfica era familiar por todo os meios, dividindo sempre espaço com as esculturas – inclusive, sendo adotada nas exposições do próprio artista. O ateliê de Rodin foi um verdadeiro palco de produção fotográfica. Rodin faleceu em 17 de Novembro de 1917, em Meudon. Desde, então, o rico acervo fotográfico de Rodin encontra-se sob o domínio do Musée Rodin, sob cuidados especias. Segue a seleção de algumas:

La fatigue, por Charles Bodmer
Máscara de Balzac sobre uma coluna com intervenções de Rodin

Estudo do Torso de Ugolino, por E. Freuler
Juca Lordello