Uma das performances mais forte que eu já assisti. Michele Mattiuzzi, uma grande performer, paulista e de presença significativa, realizou ontem na escola de Belas Artes, no segundo dia da III Mostra da Semana de Performances, que é realizada na Cañizares (galeria da EBA-UFBA), uma performance e tanta. Como eu disse, uma das performances mais fortes que eu já assisti, e apesar de uma expressividade que hipnotiza, Michelle ao performar traduz uma delicadeza a algo que parece ser (e é) grotesco, e que, por si só é constrangedor e muito particular. A  performance inicia com um clássico da canção brasileira e se despe com encantamento. 

A III Semana de Performance ainda não acabou, e as performances são de vários artistas, muitos que conhecem bem a mostra, outros que estão agregando a Semana, cada performances de naturezas diferentes, vale conferir!





Meu coração, não sei por quê
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo,
Mas mesmo assim foges de mim.

Primeiro vão as pérolas que lhe envolvem o pulso, depois o blazer. Michelle segue cantando os versos enquanto elimina, sem pressa, cada peça de roupa. A saia de bolinhas, a blusa, os sapatos. Os movimentos são leves, a voz é doce, o semblante é sonhador.

Ah se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero.
E como é sincero o meu amor,
Eu sei que tu não fugirias mais de mim.


De sua bolsa tirou corações de galinha crús, ofertando-os ao público. Enquanto Michelle atira seus corações ao gramado, as pessoas ao redor observam e fotografam em silêncio. Transeuntes paravam seus percursos para observar através das grades da Escola. 

Vem, vem, vem, vem,
Vem sentir o calor dos lábios meus
À procura dos teus.
Vem matar essa paixão
Que me devora o coração
E só assim então serei feliz,

Bem feliz.

Vai a calcinha, e lhe resta no corpo apenas o colar. O colar e os corações que remove de sua genitália e atira ao gramado onde estamos sentados. A voz, já trêmula, repete os versos da canção, e o rosto, molhado de lágrimas, mantém a expressão de deslumbre. E segue assim até deixar o pátio. A performance foi intensa, e curiosamente delicada.