Unidades, de Tilde Santos. Foto: Rodrigo Azevedo.

Aquilo que esta em cima naturalmente, também esta embaixo. Mas aquilo que esta abaixo não pode estar por cima de modo equilibrado.
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Quando o homem é transferido há um desequilíbrio, aquilo que esta em cima pode respirar e aspirar, o que esta abaixo se asfixia com o de cima.

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Fala se muito de subir ao céu, mas pouco em chuva de granizo.

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Quando se toma consciência do ar o tempo é sereno, tudo pesa e tende para baixo.
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Estar em baixo é o lugar natural do homem, portanto o ser é pesado.
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É possível libertar da consciência e se tornar leve, através da transferência para cima, esquentar-se, evaporar-se.
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O homem nuvem perde sua autenticidade, esta em todo canto e por isso também esta canto nenhum.

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O ar reprimido é muito dos outros em um só, só deseja voltar para terra, sua natalidade.
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O ar comprimido expele ao homem no outro, ejacula e vira rarefeito.
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Não há fogo sem oxigênio.
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Nasce uma flor da orgia consigo mesmo.
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Deus tem é mais que se foder. Deus que vá para o inferno. Que o Diabo lhe carregue.
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O nariz aponta o centro do horizonte.
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O homem que respira é mais grandioso que o céu. Deixa circular o ar e por isso é destituído de mofo.
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O pior tipo dos homens é o que têm o nariz de cera, fede a mofo. Seu mau hálito é insuportável.

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O vendaval amedronta, mas como é bonito de se ver, como é divino!
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Céu, sublime é o céu.

Kant diferencia o belo do sublime a partir da grandeza de extensão, uma flor é bela, mas o céu para o filósofo é sublime. O céu é mesmo o lugar da excelência de dimensões, mas o curioso caso de que a Terra é redonda e há céu em toda parte desse planeta remete a dedução de que há céu em cima e abaixo de nós. Curioso porque há um sentido humano diante desse fato. A subjetividade de todas as vivências esta mais próxima do céu que a rosa. A rosa é manual como a consciência é. O céu, nossa subjetividade, parece ser de uma abundância comparada as nossas funções biológicas. A subjetividade tanto esta equilibrada em nossa cabeça, como tendendo para o chão feito chumbo, feito peso.

O referencial espacial de inferno e céu na tradição católica é de um paradigma científico arcaico, para se tomar no sentido literal é preciso que admitamos a Terra em forma de prato, onde o céu é só isso que esta em cima de nós. Mas se mudarmos nosso referencial para Lua, então o céu a própria Terra e a terra é o paraíso?

Tomando o axioma de que o homem é formador de mundo como uma verdade. O que faz do homem ser homem é o peso da consciência. O que ele mais quer é se libertar desse peso. O homem não quer ser homem. Não quer encarar o peso da sua consciência, anda de cabeça baixa e olhos para o chão para não encarar o céu que está dentro de si, tantas vozes de sua infância. Uma verdadeira orgia consigo mesmo, às vezes sem o direito de gozar.

E a rosa, o que falar da rosa? A rosa símbolo de perfeição, porém perecível. A rosa é aquilo que já se foi, o que nós percebemos é uma imagem, muitas vezes turvas. Só nos resta o desconhecido, isso que nos amedronta. Céu, sublime é o céu.


Darlon Silva,
Poeta.