Unidades, de Tilde Santos. Foto: Rodrigo Azevedo. |
Aquilo que esta em cima naturalmente, também esta
embaixo. Mas aquilo que esta abaixo não pode estar por cima de modo
equilibrado.
*
Quando o homem é transferido há um desequilíbrio,
aquilo que esta em cima pode respirar e aspirar, o que esta abaixo se asfixia
com o de cima.
*
Fala se muito de subir ao céu, mas pouco em chuva de granizo.
*
Quando se toma consciência do ar o tempo é sereno, tudo pesa e tende para
baixo.
*
Estar em baixo é o lugar natural do homem, portanto
o ser é pesado.
*
É possível libertar da consciência e se tornar leve,
através da transferência para cima, esquentar-se, evaporar-se.
*
O homem nuvem perde sua autenticidade, esta em todo
canto e por isso também esta canto nenhum.
*
O ar reprimido é muito dos outros em um só, só deseja voltar para terra, sua
natalidade.
*
O ar comprimido expele ao homem no outro, ejacula e
vira rarefeito.
*
Não há fogo sem oxigênio.
*
Nasce uma flor da orgia consigo mesmo.
*
Deus tem é mais que se foder. Deus que vá para o
inferno. Que o Diabo lhe carregue.
*
O nariz aponta o centro do horizonte.
*
O homem que respira é mais grandioso que o céu.
Deixa circular o ar e por isso é destituído de mofo.
*
O pior tipo dos homens é o que têm o nariz de cera,
fede a mofo. Seu mau hálito é insuportável.
*
O vendaval amedronta, mas como é bonito de se ver, como é divino!
*
Céu, sublime é o céu.
Kant diferencia o belo
do sublime a partir da grandeza de extensão, uma flor é bela, mas o céu para o
filósofo é sublime. O céu é mesmo o lugar da excelência de dimensões, mas o
curioso caso de que a Terra é redonda e há céu em toda parte desse planeta
remete a dedução de que há céu em cima e abaixo de nós. Curioso porque há um
sentido humano diante desse fato. A subjetividade de todas as vivências esta
mais próxima do céu que a rosa. A rosa é manual como a consciência é. O céu,
nossa subjetividade, parece ser de uma abundância comparada as nossas funções
biológicas. A subjetividade tanto esta equilibrada em nossa cabeça, como
tendendo para o chão feito chumbo, feito peso.
O referencial espacial
de inferno e céu na tradição católica é de um paradigma científico arcaico,
para se tomar no sentido literal é preciso que admitamos a Terra em forma de
prato, onde o céu é só isso que esta em cima de nós. Mas se mudarmos nosso
referencial para Lua, então o céu a própria Terra e a terra é o paraíso?
Tomando o axioma de que
o homem é formador de mundo como uma verdade. O que faz do homem ser homem é o
peso da consciência. O que ele mais quer é se libertar desse peso. O homem não
quer ser homem. Não quer encarar o peso da sua consciência, anda de cabeça
baixa e olhos para o chão para não encarar o céu que está dentro de si, tantas
vozes de sua infância. Uma verdadeira orgia consigo mesmo, às vezes sem o
direito de gozar.
E a rosa, o que falar da rosa? A rosa símbolo de perfeição, porém perecível. A rosa é aquilo que já se foi, o que nós percebemos é uma imagem, muitas vezes turvas. Só nos resta o desconhecido, isso que nos amedronta. Céu, sublime é o céu.
Darlon Silva,
Poeta.
Categorias:
0blog,
Darlon Silva,
Preposições