S/ Título. Juninho Tatuador.


As bonecas de Juninho Tattoo podem ser entendidas como desdobramentos contemporâneos do ready-made.

Contudo, diferente da concepção pós-Duchamp assimilada pelos artistas da Pop-Art; Juninho retira seus elementos do mercado, da sociedade, das seções dos brinquedos industriais; não só para revelar seu caráter da cultura de massa, a produção em série, mas pela tentativa de restituir (ou construir?) em cada peça uma singularidade.

Cada boneca ao ser alterada pela agulha e pelos pigmentos, utilizados pela técnica da tatuagem, rompem as formas próprias da produção industrial, desta maneira buscam uma libertação estética. E não só...

Tatuando o couro sintético das bonecas industriais; o artista não só interfere e inscreve no tecido plástico, modificando a estética, mas na própria identidade do objeto, logo do indivíduo, da sociedade, da infância, do intocável e sagrado, da cultura e nos símbolos pessoais e contemporâneos.

As tatuagens, como elemento da body modification, revelam uma vontade própria de alterar a imagem do corpo natural; diferente das marcas obtidas involuntariamente pelo tempo, acidentes ou doenças. A tatuagem é uma alteração humana que revela os limites entre cultura e a natureza.

Memórias, signos, homenagens, crenças, moda... Cada indivíduo cria o sentido da necessidade em alterar-se através da tatuagem. Contudo, não estaria o símbolo da tatuagem nela própria - como já signo?

“Nenhum desses significados aí existem... Você quer ter uma tatuagem!” fala Juninho sobre as pessoas que chegam em seu estúdio com vontade de serem tatuadas.

As bonecas tatuadas de Juninho ainda nos fazem lembrar o papel dos brinquedos, das miniaturas humanas e seus jogos... Brincar de casa, construir uma família imaginária, criar trabalhos, inventar um ser... O homem brinca com suas imagens – projetadas e assimiladas. O artista também brinca de ser. Num jogo duplo: utilizando imagem das imagens.

Juninho é de uma leva de artistas que correm para os estúdios de body modification, não por uma necessidade mercadológica, mas porque os seus traços sensíveis e autênticos podem perfurar cada epiderme em busca de algo oculto, em busca do efêmero eterno.



Juca Lordelo,
diretor da EM_CULTURAL.


Confiram o vídeo do artista produzido pela EM_CULTURAL:


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