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Quando se bota fogo na madeira com o tempo só
restam às cinzas. A madeira se torna a brasa ideal para dançar. Danço descalço
no queimar dos meus pés, pois já perdi o medo de não ser eterno. Ardente como
sou, danço até o fim, então descubro que não existe o fim, só são reais os
ciclos.
As cinzas são espalhadas pelo bater das asas de
andorinhas que surgem de onde não há mais vida. As andorinhas gritam! E gritam
de uma voz tão feminina, como sussurro de vento em meus ouvidos. Gritam por
falta de uma clave de sol.
Eu virei nuvem de lágrimas e chorei idêntico a uma
mãe quando perde um filho amado. Meu peito foi se tornando em tronco, meus pés
em raízes e quando minha cabeça se tornou tênues galhos eu me transtornei em anjo
e pude voar.

Eu levei muito tempo sendo raiz. A raiz a gente não
vê, se você não olhar além da terra que a encobre, e por isso creio que poucos
viram. Quando eu fui raiz me encontrei com muitos animais selvagens. Mas não
tive medo de nenhum deles. O tigre, o rinoceronte, o elefante e todos os
outros, todos eram meus amigos, exceto a serpente.
Fui fogo, água, terra e ar, mas nada foi tão gratificante quando fui serpente. Quando fui serpente, fui todos elementos unidos, fui até onde não há elementos, fui ao cosmo, ao veneno que mata e cura.
Darlon Silva,
Poeta.
Poeta.
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